Todo mundo no universo cripto está acompanhando as mesmas manchetes:
É tudo aquilo que sempre dissemos que queríamos.
Então por que, afinal, os preços estão caindo?
Por que o Bitcoin devolve seus ganhos enquanto as ações dos EUA sobem entre +15–20% no ano? Por que suas altcoins favoritas continuam no negativo, mesmo depois que “cripto não é mais golpe” virou consenso?
Vamos debater.
O Crypto Twitter parte de um pressuposto:
“Quando as instituições entrarem, quando houver clareza regulatória, quando JPM lançar um token... acabou, vamos para a lua.”
Bem, eles vieram. Conquistamos as manchetes. E, mesmo assim, estamos aqui.
No fim das contas, há uma pergunta em investimentos:
Já está precificado?
É sempre a dúvida mais difícil. Mas o mercado está mostrando algo desconfortável:
Conquistamos tudo que pedimos — e os preços não mexeram.
O mercado pode ser ineficiente? Pode.
Por quê? Porque a maior parte do cripto estava completamente fora da realidade.
Vamos ampliar o olhar.
Ninguém sério discute mais o potencial da tecnologia. Poucos ainda dizem que tudo é golpe. Essa etapa já ficou para trás.
Mas potencial não resolve a pergunta principal:
Essa indústria realmente vale alguns trilhões com, talvez, ~40 milhões de usuários ativos?
Enquanto isso, a OpenAI pode fazer IPO perto de US$ 1 tri tendo ~20x mais usuários do que todo o cripto.
Pense nisso.
Momentos como esse colocam a questão real:
Qual é a melhor forma de se expor a cripto daqui para frente?
Historicamente: infraestrutura. ETH inicial, SOL inicial, DeFi inicial.
Esse foi o trade vencedor.
Hoje? Quase tudo está precificado como se fosse garantido 100x uso e 100x taxas. Precificado à perfeição. Sem margem de segurança.
Esse ciclo trouxe todas as manchetes... Mas algumas verdades ficaram evidentes:
Se esse gap fica aberto por tempo suficiente, o mercado deixa de te dar benefício da dúvida. Especialmente quando aparece receita.
Fluxos seguem o momentum. É assim que os mercados funcionam. Agora, IA é protagonista. Cripto não.
O lançamento do Tempo pela Stripe serve de alerta. Talvez, só talvez, corporações não vão usar infra pública só porque ouviram no Bankless que Ethereum é o supercomputador do mundo. Elas vão onde faz mais sentido econômico.
Por isso não me surpreende que seus ativos não estejam subindo só porque Larry Fink percebeu que cripto não é golpe.
Quando tudo está precificado à perfeição, basta um espirro do Powell ou um olhar estranho do Jensen Huang para derrubar a tese.
Vamos calcular os grandes L1s.
Primeiro, staking (não lucro):
~419M SOL em staking × ~6% ≈ 25M SOL/ano
A ~US$ 140 → ~US$ 3,5 bi/ano em “recompensas”
~33,8M ETH em staking × ~4% ≈ 1,35M ETH/ano
A ~US$ 3 100 → ~US$ 4,2 bi/ano em “recompensas”
Alguns apontam o staking e dizem:
“Olha, os stakers recebem! É captura de valor!”
Não. Recompensa de staking não é captura de valor.
São emissões, diluição, custo de segurança — não lucro.
Valor econômico real = taxas + gorjetas + MEV pagos pelo usuário. Isso é o mais próximo de “receita” que uma blockchain tem.
Nesse aspecto:
Então, o panorama atual:
Nada disso é preciso. Não precisa ser. Não estamos protocolando na SEC. Só queremos saber se estamos na mesma galáxia.
E isso antes do problema real:
Essas não são receitas estáveis, com padrão empresarial.
São fluxos hiper-cíclicos, especulativos e recorrentes:
No bull market, taxas e MEV explodem. No bear, somem.
Isso não é receita SaaS recorrente. É Las Vegas.
Não se dá múltiplo de Shopify para quem só lucra quando o cassino está cheio a cada 3–4 anos.
Negócio diferente. Múltiplo diferente.
Não existe universo coerente onde:
Ethereum com ~US$ 400 bi+ para talvez US$ 1–2 bi em taxas bem cíclicas seja “value buy”.
É ~200–400x P/S, com crescimento desacelerado e vazamento crescente para L2s. ETH não funciona como governo federal arrecadando impostos; funciona como governo federal que só recebe impostos estaduais, enquanto os estados (L2s) ficam com quase todo o upside.
Virou meme que ETH é “computador mundial”, mas o fluxo de caixa não condiz com o preço. Ethereum lembra a Cisco: liderança inicial, múltiplo errado e um topo histórico que talvez não volte.
Solana, em comparação, parece menos insana — não barata, mas menos maluca.
Faz bilhões de receita anualizada com market cap de US$ 75–80 bi — generosos 20–40x P/S.
Continua alto. Continua inflado. Mas “relativamente barata” frente ao ETH.
“Prezados LPs, superamos o ETH — e mesmo assim perdemos 80% do fundo.”
No fim, precificamos fluxo de cassino como receita recorrente de software. Valeu por jogar.
Para comparar múltiplos:
A Nvidia, ação de crescimento mais cultuada do planeta, negocia a 40–45x lucro (não vendas!) — e isso com:
E, de novo: estamos falando de receita cíclica de cassino, não fluxo de caixa estável.
No máximo, essas redes deveriam negociar com desconto — não prêmio — frente à tech.
Se as taxas não migrarem do churn especulativo para valor econômico recorrente, a maioria das avaliações vai ser ajustada.
Vai chegar um momento em que os preços vão se reconectar aos fundamentos. Ainda não é esse momento.
Hoje:
Construímos trilhos que movem dinheiro pelo mundo, instantaneamente, 24/7, por baixo custo... e decidimos usar principalmente para caça-níquel.
Ganância de curto prazo; preguiça de longo prazo.
Como diz Marc Randolph, cofundador da Netflix: “Cultura não é o que você diz, é o que você faz.”
Não venha falar de descentralização se seu produto principal é perpetual 10x alavancado de Fartcoin.
Dá para fazer melhor.
É o único caminho para sair do “nicho cassino hiper-financializado” e virar uma indústria de verdade.
Não vejo o fim do cripto. Vejo o fim do começo.
Investimos demais em infraestrutura — mais de US$ 100 bi em redes, bridges, L2s, plays de infra — e investimos pouco em produtos, implantação e usuários reais.
E seguimos nos gabando de:
O usuário não liga. Ele quer saber se:
De volta ao fluxo de caixa.
De volta à economia unitária.
De volta ao básico: quem é o usuário e qual problema estamos resolvendo?
Estou long em cripto há mais de dez anos. Isso não mudou.
Ainda acredito:
Mas não acho que os maiores ganhadores da próxima década serão as L1s ou L2s de hoje.
Historicamente, os vencedores de cada ciclo tech estão na camada de agregação de usuários, não na de infraestrutura.
A internet barateou computação e armazenamento. A riqueza foi para Amazon, Google, Apple — quem usou a infra barata para servir bilhões.
Cripto vai repetir esse padrão:
A maior oportunidade agora é colocar essa tecnologia nas empresas que já operam em escala. Trocar a tubulação financeira pré-internet por trilhos cripto onde realmente reduz custo e melhora eficiência — do mesmo jeito que a internet turbinou tudo, de varejo a indústria, porque a economia era boa demais para ignorar.
Todo mundo adotou internet e software porque fazia sentido econômico. Com cripto, será igual.
Dá para esperar mais uma década para isso acontecer.
Ou começar já.
E onde isso nos deixa?
Vale reavaliar tudo:
Ainda estamos tão cedo que preço de token parece indicar se a tecnologia funciona. Ninguém escolhe AWS ou Azure porque Amazon ou Microsoft subiu na semana.
Dá para esperar mais uma década até as empresas adotarem. Ou começar agora.
Traga PIB real on-chain.
O trabalho não acabou.
Inverta.





