Relatório sobre o Mercado de Criptoativos na Coreia do Sul: Reinício e Próxima Fase de Crescimento

1. Introdução: Mudança de Paradigma de Mercado em Curso

Sinais-chave

• O mercado de ativos digitais da Coreia do Sul passa por uma das maiores reestruturações de sua história. O volume médio diário de negociações na Upbit despencou de US$9 bilhões em dezembro de 2024 para US$1,78 bilhão em novembro de 2025—queda de 80%. Esse movimento ocorreu ao mesmo tempo em que o número de novas listagens de tokens nas exchanges coreanas aumentou 141% em 2025, comparado ao ano anterior. Paralelamente, o capital de varejo migrou fortemente para o mercado de ações em ascensão. O índice KOSPI disparou cerca de 70%, impulsionado pelo setor de chips de IA, com Samsung Electronics e SK hynix à frente.

• O “Kimchi Premium”—por muito tempo marca registrada do mercado coreano e historicamente em torno de 10%—foi reduzido para apenas 1,75%. Não se trata de fuga de capitais, mas de uma normalização, com a eliminação do excesso especulativo.
• O Kimchi Premium refere-se à diferença de preço em que criptoativos como Bitcoin são negociados a valores superiores nas exchanges coreanas (Upbit, Bithumb) em relação a plataformas globais (Binance, Coinbase).
• A questão central: o ciclo cripto da Coreia chegou ao fim ou este é um ajuste sistêmico antes da próxima onda estrutural?

2. Por Trás do Resfriamento: Desvendando a Lentidão no Mercado Cripto da Coreia

Não se trata de uma correção passageira, mas de um realinhamento estrutural, impulsionado por atrasos regulatórios, controles de capital e fadiga dos investidores.

2.1 Atrasos regulatórios e incerteza

• A Stablecoin Act da Coreia—projetada como base para o futuro dos ativos digitais do país—está paralisada há sete meses devido ao debate sobre bancos ou entidades não bancárias como emissores. Hoje, existem seis propostas em análise, com a Financial Services Commission (FSC) buscando consolidar um texto único até o final de 2025.
• Esse vácuo regulatório desacelerou a inovação institucional e tornou as empresas Web2 que exploram tokenização e avanços em camadas de liquidação mais cautelosas. O ambiente geral tornou-se claramente mais avesso ao risco.

2.2 Saída de capitais e armadilha de liquidez

• Os rígidos controles cambiais da Coreia impedem que market makers e instituições estrangeiras injetem liquidez, o que resulta em persistentes saídas unilaterais de capital.
• Foreign Exchange Transactions Act (FETA): Não residentes não podem manter KRW livremente ou utilizar a moeda de forma flexível. Praticamente todos os grandes fluxos de câmbio e capital exigem reporte obrigatório ou aprovação prévia, limitando fortemente a atuação de instituições estrangeiras no país.
• Financial Supervisory Service (FSS) “Diretrizes para Processamento de Negócios de Câmbio”: Bancos locais enfrentam limites rigorosos de posição intradiária e, em geral, são proibidos de fornecer liquidez em KRW para instituições não residentes, tornando quase impossível que market makers estrangeiros estabeleçam posições em KRW ou forneçam liquidez bilateral genuína.
• Embora algumas projeções apontem receita do mercado de ativos digitais coreano chegando a US$635 milhões até 2030, as restrições de liquidez no curto prazo seguem intensas.
• Importante destacar que o mercado coreano é altamente alavancado. Caso surja um novo catalisador—como clareza regulatória ou uma nova alta global do Bitcoin—o mercado pode se recuperar rapidamente.

2.3 Correção construtiva, não colapso

• Em vez de indicar uma queda, o resfriamento do mercado deve ser visto como retorno à normalidade. O ciclo do mercado coreano está se alinhando às tendências globais—saindo da expansão baseada em especulação para uma fase focada em utilidade real. Os participantes estão migrando gradualmente do trading de curto prazo para infraestrutura, custódia, compliance e aplicações reais. Embora essa transição seja desafiadora, é essencial para o crescimento sustentável.

3. Gigantes cripto avançam em Seul

• Apesar da queda evidente na participação do varejo local, gigantes globais de cripto estão intensificando suas apostas no mercado coreano. Essa expansão contracíclica evidencia a confiança dos players externos na população altamente tecnológica da Coreia e no potencial de longo prazo de seu mercado institucional.

3.1 Principais desenvolvimentos

• Em outubro de 2025, a Binance marcou seu retorno à Coreia ao adquirir a Gopax, encerrando uma ausência de quatro anos. Isso foi possível, em parte, pela flexibilização das restrições à propriedade estrangeira, sinalizando abertura às empresas cripto globais.
• Essa aquisição abre caminho para competição mais acirrada, canais de liquidez mais eficientes e ofertas de produtos mais sofisticados. Usuários locais terão acesso a produtos e serviços significativamente aprimorados.
• Matriz de Indicadores de Performance Central

Fonte: Surf AI, 2025

3.2 Por que agora?

Três fatores estratégicos explicam este momento:

• Alta alfabetização cripto e rápida adoção tecnológica
• A Coreia segue como um dos mercados mais ágeis na adoção e implementação de novas tecnologias, incluindo IA e ativos digitais.
• Potencial de integração de stablecoins
• Bancos, fintechs e gigantes da internet como Kakao e Naver estão testando stablecoins, podendo conectar o sistema financeiro doméstico ao ecossistema blockchain.
• Crescente demanda institucional
• Investidores institucionais coreanos mostram interesse crescente em custódia, tokenização de ativos e alocação de ativos digitais em conformidade, criando base para fluxos de capital sustentados no longo prazo.

4. Perspectivas

• A atual retração não é o fim, mas um ajuste estrutural que leva o mercado coreano além da especulação, rumo ao crescimento alinhado à utilidade e à institucionalização. Legislação de stablecoins, infraestrutura institucional de custódia e um potencial ETF de Bitcoin devem ser os pilares da próxima fase de crescimento. A Coreia entra em nova era, impulsionada por valor real de produtos, educação do usuário e inovação regulatória.

4.1 Projeção de mercado

• O mercado cripto coreano deve crescer a um modesto CAGR de 2,94%, mas o verdadeiro ponto de virada pode vir com a esperada aprovação de um ETF de Bitcoin em 2026—tema já em discussão ativa entre formuladores de políticas coreanos.
• Após aprovação, isso pode trazer:
• Participação oficial de fundos de pensão e gestoras de ativos coreanas
• Entrada em larga escala de market makers estrangeiros
• Descoberta de preços de maior qualidade e spreads mais estreitos

Isso pode restabelecer a Coreia como polo regional de entrada de capitais.

4.2 Convergência Web2 e Web3 na Coreia

• Conglomerados coreanos intensificam a adoção prática de blockchain:
• Bancos, fintechs e grandes empresas de tecnologia estão testando stablecoins e explorando trilhos de pagamento e liquidação digital em KRW.
• Upbit e Bithumb lançaram ou expandiram serviços de custódia institucional, permitindo que instituições locais e capital estrangeiro retornem ao mercado em conformidade.
• Isso marca a transição de atividades especulativas para foco em infraestrutura e utilidade real.

4.3 Benchmarking global

• A abordagem regulatória da Coreia está cada vez mais próxima da japonesa: rígida, porém previsível. Se a Coreia alcançar clareza semelhante sobre stablecoins, tokenização de ativos e ETFs de ativos digitais, pode se tornar um dos hubs cripto mais equilibrados da Ásia, atraindo construtores institucionais e liquidez global.

4.4 Pelo olhar do marketing Web3: Por que a Coreia prioriza usabilidade real de produto

• No próximo ciclo coreano, um fator crítico e frequentemente negligenciado será a crescente demanda por usabilidade real de produto.
• A Coreia se destaca como mercado onde exchanges e usuários testam, validam e entendem profundamente um projeto antes de adotá-lo—tendência ainda mais clara com a mudança para crescimento orientado à utilidade.
• Por exemplo:
• Campanhas de quiz da Upbit: Educação como infraestrutura essencial de mercado
• A Upbit realiza frequentemente eventos educativos baseados em quiz para novas listagens, exigindo dos usuários respostas sobre:
• Arquitetura técnica
• Tokenomics
• Casos de uso e funcionalidades reais
• Roadmap e perfil de risco
• Isso difere fundamentalmente do modelo de farming de airdrop comum em outros mercados. A mensagem: exchanges coreanas enfatizam verificação, compreensão e educação do usuário, exigindo das equipes de projetos articulação clara e detalhada de seu valor.
• Campanha de produto prático Upbit X Surf
• Em 2025, Upbit e Surf fizeram campanha incentivando usuários a interagir diretamente com os produtos dos projetos, experimentar funcionalidades e gerar resultados concretos.
• Isso marca mudança clara:
• Exchanges coreanas valorizam cada vez mais validação baseada na experiência real do usuário, em vez de marketing superficial de exposição.
• Na Coreia, usabilidade e qualidade de produto são o principal instrumento de marketing.
• Narrativas sem execução não sobrevivem por muito tempo aqui.

4.5 Estratégia do investidor

Para se posicionar de forma eficaz neste ajuste, investidores devem:

• Acompanhar catalisadores como consolidação do projeto da FSC, avanços em ETF de Bitcoin e legislação iminente de stablecoins.
• Priorizar projetos com utilidade duradoura em vez de tokens movidos por hype.
• Focar em indicadores macro no quarto trimestre, já que investidores de varejo coreanos historicamente retornam em massa em ciclos de maior apetite ao risco.
• Diversificar para evitar apostas concentradas vinculadas a cronogramas regulatórios ou políticos.

Investidores também devem observar ecossistemas internacionais que estabelecem presença local cedo na Coreia. Uma tendência chave para o próximo ciclo é a rápida formação de parcerias entre redes públicas globais e grandes empresas coreanas—indicando evolução do mercado coreano de transacional para polo de co-desenvolvimento e integração profunda de infraestrutura.

Caso 1: Sui x t’order

• Parceiro local: t’order (principal rede de pedidos de mesa e POS da Coreia)
• Integração: Suporte a pagamentos com stablecoin atrelada ao KRW, QR code e reconhecimento facial, taxa zero para comerciantes, liquidação em tempo real

Caso 2: Solana x Shinhan Securities

• Parceiro local: Shinhan Securities (uma das maiores corretoras da Coreia)
• Colaboração: MOU estratégico para apoiar conjuntamente empreendedores Web3, desenvolvedores e o ecossistema Solana na Coreia, liderado pela Superteam Korea

Caso 3: Arbitrum x Lotte Group

• Parceiro local: Lotte Group (um dos maiores conglomerados da Coreia)
• Integração: Arbitrum concede grandes subsídios de desenvolvimento à Caliverse (plataforma metaverso da Lotte) para integração blockchain

5. O inverno cripto da Coreia é um reset, não um recuo—e uma janela estratégica para builders

Apesar da contração atual, a Coreia segue como um dos mercados cripto mais dinâmicos do mundo. Stablecoins permitem que grandes empresas Web2 explorem liquidação on-chain e tokenização de infraestrutura. As principais exchanges continuam expandindo custódia e serviços institucionais. A possível aprovação de um ETF de Bitcoin aumentou consideravelmente as chances de retorno de liquidez estrangeira ao país.

O ecossistema cripto coreano não está acabando—está amadurecendo rapidamente.

Esse ajuste marca a transição da Coreia de playground varejista movido por hype para economia de ativos digitais com design estrutural, suporte e participação institucional no centro.

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